Grifes usam mesmos fabricantes que redes populares em Bangladesh

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A mão de obra barata das fábricas de vestuário nem sempre produz roupas igualmente baratas.

A disponibilidade de trabalhadores de baixo custo levou várias empresas como H&M, Gap, Walmart, Zara e outras à indústria de vestuário de Bangladesh de US$ 20 bilhões.

Mas grifes como Giorgio Armani, Ralph Lauren e Hugo Boss também mantêm fabricação terceirizada em Bangladesh, onde a segurança do trabalhador tornou-se um grande problema após vários acidentes fatais. Na verdade, as marcas de luxo costumam usar as mesmas fábricas que as populares.

De acordo com registros de envio, a Giorgio Armani recebeu no ano passado uma remessa de 9.800 quilos de camisetas e cuecas fabricadas na cidade portuária de Chittagong. Uma fábrica próxima forneceu calças femininas para a Michael Kors.

A Armani informou que a marca produz um “número relativamente pequeno de itens” em Bangladesh. “A suposição comum de que todas as condições de fabricação ali são inadequadas não reflete a atual situação e prejudica a imagem do país”, afirmou a empresa.

Uma porta-voz da Michael Kors disse que “muito raramente” a companhia tem procurado fornecedores de Bangladesh.

O item mais básico da moda, a camiseta, ressalta a incongruência entre as marcas de luxo e as populares. Em lojas de Londres, uma camiseta fabricada em Bangladesh da marca G-Star custa cerca de US$ 90 – 15 vezes a mais que os US$ 4 que a rede Asda, do Walmart, cobra por uma das suas camisetas básicas masculinas, vendidas com a marca George. Uma camiseta simples cinza estampada da Tommy Hilfiger custa US$ 39,99 na Amazon.com.

A variedade de preços no varejo das roupas fabricadas em Bangladesh expõe a diferença em relação ao custo de produção – e quão pequena não é a fatia que vai para a fábrica que produz as peças.

Embora existam poucas diferenças na produção de uma camiseta, o maior determinante do seu preço não é a sua marca, segundo especialistas. “Marcas como Tommy Hilfiger, Calvin Klein e Giorgio Armani têm um preço mais elevado porque têm uma reputação e isso faz a diferença”, diz Ralston Fernandez, vice-presidente sênior de operações da ZXY Apparel Buying Solutions, uma empresa de Bangladesh que distribui os pedidos dos varejistas entre as fábricas locais.

Os preços de varejo incluem outros custos, como publicidade da marca, aluguel da loja e salários dos vendedores.

No caso de uma camiseta, a matéria-prima responde por pelo menos metade dos custos de produção, diz Bakhtiar Uddin Ahmed, gerente-geral da Fakir Apparels, uma fábrica de camisetas com clientes como a H&M, Primark, Puma e G-Star Raw. A Fakir Apparels compra um quilo de algodão de Bangladesh por US$ 3,80, volume suficiente para fabricar quatro camisas.

Algumas marcas de alta qualidade escolhem o algodão longo fibrado Pima, cultivado nos Estados Unidos, porque eles duram mais. Um quilo de Pima custa cerca de US$ 5,50, diz Fernandez da ZXY.

Se for adicionado poliéster ou viscose, isso ajuda a reduzir o custo. No entanto, algumas das camisetas mais baratas feitas em Bangladesh são 100% algodão, como as que custam cerca de US$ 6 nas lojas das redes Tesco e Wal-Mart, enquanto uma camisa da marca Replay custa cerca de US$ 53 e não é uma mistura de algodão e viscose.

Depois do algodão, vem o custo da mão de obra. O governo de Bangladesh, pressionado para melhorar as condições de trabalho após o colapso de uma fábrica que matou mais de 1,1 mil pessoas há dois meses, comprometeu-se com o aumento do salário mínimo, que atualmente não é de US 38 por mês, um quarto do salário da China. Duplicando esta quantia, isso adicionaria de US$ 0,10 a US$ 0,12 ao custo de fabricação de uma camiseta básica, de acordo com Abby Jamal, diretor-gerente da ZXY Apparel. Varejistas como a H&M afirmaram que absorveriam os custos trabalhistas mais altos.

As camisas de alta qualidade são mais propensas a ter pequenos custos extras. E cada incremento adiciona alguns centavos no seu custo. O bolso em uma camiseta de cerca de US$ 90 da G-Star Raw requer dois ou três trabalhadores a mais na linha de produção, estima Mohammad Zulficar Ali, diretor-executivo do escritório de Bangladesh da empresa de compras globais Synergies Worldwide.

Ele também aponta a aplicação de detalhes que cobrem as emendas das camisas na região do pescoço, assim como a aplicação de etiquetas, uma delas em couro, como causas da elevação do preço. “São etiquetas muito caras”, diz.

Diferenças de qualidade também são verificadas em processos de impressão. Observando uma camiseta cinza da rede de lojas Primark com uma estampa em preto da banda britânica Iron Man, Ali a descreve como “uma impressão de borracha barata” que pode adicionar entre US$ 0,10 e US$ 0,12 ao preço final do produto. Segundo ele, a estampa laranja em uma camisa jeans da Hilfiger que custa US$ 39,99 não é de qualidade superior e pode custar o dobro.

Ali, que não distribui encomendas de nenhum desses produtos, estimou que o custo de produção da camisa da Primark não é de US$ 1,60, a da camisa da Hilfigier, US$ 5, e da camiseta com bolso da G-Star Raw, US$ 6 ou um pouco mais. A Primark e a G-Star se recusaram a comentar seus custos de produção. A Hilfiger não respondeu aos pedidos de comentário.

Em Bangladesh, as marcas de alta qualidade muitas vezes acabam pagando à fábrica um pouco mais do que as marcas populares porque elas encomendam quantidades menores. As fábricas preferem ordens maiores porque isso permite que elas tenham cronogramas de produção mais previsíveis. A Fakir cobra 20% a menos da H&M para fabricar uma camiseta básica do que uma camiseta equivalente da G-Star Raw. “Isso se deve principalmente ao volume”, diz Fakir Nafizuzzaman, diretor da fábrica.

E não são apenas camisetas de marca que são fabricadas em Bangladesh. Registros de envio mostram que a Ralph Lauren também tem uma variedade de roupas que são fabricadas lá, incluindo camisas polo, blusas de lã de carneiro, jeans skinny femininos de cores neon e jaquetas infantis de US$ 110. A Ralph Lauren não quis comentar.

A Hugo Boss informou que começou a comprar camisetas e outras peças do país há um ano, porque estava enfrentando restrições de capacidade em suas fábricas na Europa. A grife alemã afirmou que ainda não tem uma relação custo-benefício porque ela ainda está investindo no seu relacionamento com quatro fábricas locais.

Proprietários de fábricas em Bangladesh dizem que suas margens de lucro tendem a ser as mesmas, independentemente do cliente. Ahmed diz que a margem de lucro da Fakir não passa de 2,5%. “Os clientes estão sempre buscando diminuir os custos”, diz ele.

Para as costureiras que fazem a camiseta, os salários dependem da sua habilidade e nada têm a ver se a peça se destina a uma marca de luxo ou popular.

Uma boa costureira pode ganhar US 100 por mês, sem contar as horas extras, enquanto um funcionário em um nível abaixo pode ganhar US$ 80, diz Fernandez, o suficiente para comprar apenas uma das camisetas de luxo que produzem.

 

Fonte: Jornal Valor Econômico 

Link:  https://www.valor.com.br/empresas/3181616/grifes-usam-mesmos-fabricantes-que-redes-populares-em-bangladesh#ixzz2XtTz97uP

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