Nas últimas semanas, vivo uma mistura de empolgação com as múltiplas possibilidades de fazer coisas junto ao BTG (quando e se houver a devida aprovação regulatória, claro) e dúvidas sobre o meu próprio potencial de execução. Vejo as pessoas tão cheias de si e tão confiantes — de onde essa gente tira tanta autoestima? Se essa turma fosse a metade do que acha que é, o mundo seria um lugar tão melhor…Como diria Millôr, como são admiráveis as pessoas que não conhecemos bem.

Falta braço para executar cada ideia emergente e vibrante nas nossas cabeças. Os insights nos visitam à sua própria vontade, como e quando querem — pessoal chega sem convite. Se dois braços já me seriam insuficientes, considere ainda que a Bia está de licença-maternidade. E aí, meu caro, azedou de vez. Estou sem braços, sem pernas e sem o motor, com o coração apertado de saudade.

Nunca tive dúvidas de que o BTG seria nosso parceiro ideal. Julgava, com muito respeito e humildade, sabendo meu lugarzinho no mundo, que nós também poderíamos ser um pouco úteis ao BTG — agora, até os analistas do BBA pensam assim também. Mas confesso surpresa com tudo aquilo que pode vir a ser feito conjuntamente, em prol do cliente. Cada reunião ou conversa abre uma infinidade de possibilidades. A verdade é que eles são ainda melhores e mais abertos do que eu vislumbrava antes. Em cada encontro, a percepção é de interagir com um Navy Seal.

Sinceramente, com a transparência de sempre, não sei se serei capaz de entregar tudo que está na minha cabeça hoje. Desconfio que não. Essa sensação de convívio com a não realização é perturbadora e me joga para um estado psíquico de bastante agitação, talvez pequena obsessão. A parte boa é que nos deparamos com uma assimetria bastante convidativa: se conseguirmos levar aos nossos assinantes e investidores metade dessas coisas, já teremos dado um salto quântico, que, muito provavelmente, não conseguiríamos numa caminhada sozinhos. Isso me alegra. Montão.

Fusões e aquisições boas são assim, aquelas que abrem horizontes mais amplos do que seria exequível se ambos se mantivessem separados. Numa aritmética criativa, um mais um somam três, no que convencionou-se chamar de “sinergias”, palavra bonita para descrever exploração de alternativas possíveis somente mediante a união.

Talvez por circunstância do momento (ao martelo tudo parece prego), talvez por ter capturado alguns ganhos com ações derivados de M&As e movimentações societárias neste primeiro semestre (HAPV3/GNDI3; BPAN4/BPAC11; JPSA3/IGTA3; PCAR3/ASAI3), talvez por simplesmente garimpar elementos idiossincráticos em prol da valorização de certos cases diante de valuations que já não são mais tão óbvios, talvez — e mais provável — por uma combinação dessas coisas, tenho pensado em possibilidades de M&A em Bolsa no curto prazo.

Seis nomes me vêm à cabeça, pá-pum:

Tecnisa:

com todo o respeito pessoal possível, a história seria de que Meyer, depois de se recuperar de uma questão de saúde, estaria disposto a vender a companhia. Seria uma solução interessante para quem tem um grande banco de terrenos e uma construtora de qualidade, mas está sem tanta capacidade de lançar neste momento. A história dos Cepacs ajudaria a viabilizar projetos da companhia e reduzir o risco de execução no Jardim das Perdizes. Movimento seria de uma incorporadora fechada, capitalizada e interessada nesse landbank. Em termos de NAV, TCSA3 tem valor e poderia subir uns 50% frente aos preços de tela com alguma facilidade.

3R Petroleum e PetroRecôncavo:

enquanto o mercado espera o iminente anúncio da compra de Papa-Terra pela 3R, o que seria excelente para suas ações, que passariam a negociar a 3,5 vezes EV/Reservas 2P, talvez comecemos a pavimentar a via para algo mais amplo e transformador. Não é exatamente para agora. O mercado teria que reprecificar as companhias e então vermos as relações de troca, talvez coisa de um ano. Empresas são próximas, se respeitam mutuamente e o ganho de escala jogaria as empresas para um outro patamar, literalmente. Para 3R, vejo uma história longa, com vários outros bids em curso, e transformacional. A ação tem espaço para dobrar.

Qualicorp e Rede D’Or:

para aqueles mais antigos e com memória de elefante, esse caso lembra muito a dinâmica do Edson Bueno em cima da Dasa em 2015. Tornando curta uma longa história, Pátria e Rede D’Or estão basicamente secando o float. Daí, quando assustarmos, vem o take over formal. Qualicorp hoje superou suas questões históricas de governança e se encaixaria bastante bem em Rede D’Or, que já está lá há algum tempo e continua aumentando sua participação. Downside baixo em Qualicorp, bom dividendo, trend secular de saúde, valuation mais descontado do que pares do setor e esse upside risk de M&A.

Stone e Méliuz:

Stone sempre foi referência de execução e empreendedorismo — com os devidos méritos, registre-se. André Street e Guilherme Benchimol talvez sejam as maiores referências de empresários brasileiros da já não tão nova geração (o tempo chega pra todos, bicho implacável). Mas a verdade é que as coisas já não são mais as mesmas por lá. A empresa perdeu boa parte do top management, muitos ligados ao próprio Street, e alguns dos fundadores estão distantes do dia a dia; em ambientes competitivos, meu caro, ou você está com a barriga no balcão, ou você não tem a menor chance. Uma forma de recuperar dinamismo, ampliar a gama de produtos e ter a vitalidade de gente jovem — a mesma que a Stone tinha há poucos anos — seria abocanhar a Méliuz, que tem sido exemplo de execução desde seu IPO. Cresce como deve ser para uma tech, tem cultura e tecnologia fortes e vem executando M&As estratégicos com boa alocação de capital. Compra da Acesso deu múltiplas possibilidades à companhia. Seria uma forma rápida e ágil de a Stone voltar a ganhar terreno e opcionalidades, antes que a Méliuz esteja valendo R$ 10 bilhões em Bolsa.

Marisa:

estereótipo sempre foi de que a companhia era muito bagunçada, o que, reconheça-se, tinha razão de ser. Mas agora a operação está azeitadinha e com um valor de mercado que é uma fração de outros pares com igual reconhecimento de marca. Com Grupo Soma e Arezzo valendo quase R$ 10 bilhões, Marisa é quase uma opção de graça. Pode ter muita sinergia e, por que não?, vir a ser alvo até da Renner. Nesse preço, não tem negócio, claro, mas por volta de R$ 15/ação, acho que já rola conversar.

Enjoei:

ideia desde o IPO sempre foi: isso aqui vai crescer um pouco e alguém vai tomar. O Fred Trajano seria um candidato óbvio a olhar com carinho. Esses marketplaces verticais bem tocados e com brand equity tem ganhado bastante espaço e atraído atenção. Se envolver uma troca de ações ou algo assim, pode fazer sentido para todo mundo.
Para encerrar e voltando a Millôr, “de todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência”. Nada como uma boa transa entre empresas para ganhar dinheiro… leia mais em seudinheiro 16/06/2021